Oficina Cidades Criativa em Ilhéus defende a valorização das culturas locais
Ao participar da Oficina Cidades Criativas, em Ilhéus, sul do Estado, nesta terça-feira, 4, o superintendente do Sebrae na Bahia, Edival Passos, destacou a necessidade de valorização das culturas locais como fator decisivo para a implantação de um novo modelo de desenvolvimento regional. “Eu sei que nossa mente não foi trabalhada para enxergar o entorno e as possibilidades existentes nele. Mas posso garantir que existem mil oportunidades. É possível fazer uma coisa de várias formas, porque todos nós temos o princípio criativo”, afirmou.
Na opinião de Passos, o grande desafio para implementar essa visão de sustentabilidade é despertar para um novo momento que o mundo atravessa. “O grande desafio é se autoconhecer”, afirmou, ao falar para um público de aproximadamente 100 pessoas, formado por políticos, empresários, economistas, e representantes de governos municipais.
O sul da Bahia, na opinião da coordenadora da Unidade Regional do Sebrae, em Ilhéus, Claudiana Figueiredo, tem um grande celeiro de possibilidades para atuação neste setor, mas precisa passar por uma mudança de mentalidade sobre o modelo econômico para as próximas décadas. “O importante é usar o talento, a criatividade e o capital intelectual para desenvolver bens de consumo que nunca chegam ao fim.”, assegura.
Defensora desse novo modelo de desenvolvimento sócioeconômico para a região, Claudiana Figueiredo lembrou números que confirmam a tendência cada vez mais forte da Economia Criativa na vida das pessoas. O setor já representa 2,84% do PIB brasileiro e tem um crescimento, nos últimos cinco anos, de 6,3% ao ano, seguindo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Mais de 3 milhões de pessoas já estão trabalhando nos segmentos da Economia Criativa e representam 8,74% do total de empregos formais no Brasil. A receita média dos trabalhadores formais no núcleo, está bem acima das médias nacional e local, com R$ 2.293. “É preciso, portanto, apostar no diferente, no inovador”, completou.
É o que está fazendo o grupo musical Mulheres em Domínio Público, de Ilhéus. As suas três integrantes foram à campo e passaram a pesquisar cantigas de domínio público (daí a origem do nome do grupo) que embalaram lavadeiras e mulheres originárias da tradicional lavoura, nos tempos áureos da produção de cacau na região. De acordo com a vocalista do grupo, Tacila Mendes, com o resgate feito e o material em mãos, foi possível fazer releituras musicais que já estão sendo apresentadas em eventos culturais no sul da Bahia. A mais recente apresentação foi justamente na oficina.
Fazer diferente - Maior autoridade brasileira em Cidades Criativas, a economista e administradora pública Ana Carla Fonseca garante que, quando a concorrência chega, passam a existir apenas dois caminhos a ser tomados: “Ou você briga pelo preço ou faz a coisa diferente”. Doutora em urbanismo, consultora da Organização das Nações Unidas e com palestras realizadas em 24 países, Ana Carla destacou em Ilhéus a importância dos eventos que estão sendo realizados em 10 regiões da Bahia, porque possibilitam o encontro dos mais diversos setores da sociedade. “É nos encontrando que conseguimos pensar e criar”, afirmou.
Para a consultora, apesar de todo ser humano ser dotado de criatividade, é fundamental agregar conhecimento e inovação a tudo que faz. Ela destaca a necessidade da união de três setores para que a Economia Criativa avance: governos, empresas e sociedade civil organizada. “Ao governo cabe alavancar os eixos do desenvolvimento; as empresas devem ficar responsáveis pela inovação tecnológica, o olhar diferente; e a sociedade deve juntar tudo isso e promover o engajamento”, afirmou.
Ela lembra que resultados positivos do funcionamento deste tripé de ações já podem ser vistos como casos de sucesso e de mudança de comportamento em países como os Estados Unidos, onde 11% do PIB já representam a Economia Criativa, e o México, onde 11% dos empregos formais também foram criados pelo setor.
“Temos fomentado essa proposta por aqui também e mostrado às pessoas a importância de nos adequarmos a esse novo modelo”, defendeu a presidente da ONG Instituto Nossa Ilhéus, Maria do Socorro Mendonça. Ela destaca que o primeiro resultado desta proposta é construir com as Prefeituras uma relação de parceria e confiança.
Para Socorro Mendonça, é fundamental a parceria do Sebrae nesse processo. “Não dá mais para desperdiçarmos essa oportunidade”, reforçou.
“Juntos vamos criar um ambiente com conhecimento, metodologias e práticas que permitam as pessoas descobrirem a criação”, reiterou Edival Passos. “Hoje, a inteligência e o conhecimento são o capital mais importante das nossas vidas. Queremos que o conhecimento incida sobre o real. Isso pode gerar riqueza e eu estou convencido disso”, completou o superintendente do Sebrae. No sul da Bahia, a oficina foi resultado de uma parceria entre o Sebrae e os Institutos Nossa Ilhéus e Arapyau.